A vida não é de abrolhos.
É de abr’olhos.
A vida não é de escolhos.
É de escolhas.
Por que me olhas e m’olhas?
Por que me forras a alma
Com o relento de um sentimento?
Serei eu a tua escolha?
Abre os olhos e olha,
Que eu já me escolhi em ti!
Alexandre O'Neill
Ernest Hemingway (1899-1961)
Romancista e jornalista norte-americano, nasceu em Oak Park, Illinois, 1899. Inscreveu-se como voluntário na Cruz Vermelha para participar na Primeira Guerra Mundial.
Foi a época das suas grandes vivências europeias, principalmente francesas e espanholas.
Hemingway como William Faulkner, são os grandes escritores da narrativa norte-americana da época, mas ao contrário de Faulkner, Hemingway constrói grande parte das suas histórias em espaços fisicos fora do seu território natal. As suas obras tem um fio narrativo bastante simples, proporcionando uma leitura agradável; apresentam como caracteristicas principais, a nitidez psicológica das personagens, aliadas a uma simplicidade dos diálogos com registos muito próximos da coloquialidade. Os monólogos revelam grande concisão discursiva eliminando o superfluo. Também a sinestesia é um recurso presente em muitos romances de Hemingway; em “As Verdes Colinas da África”, o protagonista descreve uma hiena ferida que devora o próprio intestino enquanto agoniza. O cheiro da savana e do sangue como que sai das páginas do livro e invade as narinas do leitor. Ler os textos do autor de “O Velho e o Mar”, torna-se um bom exercício para aqueles que pretendam iniciar-se na leitura.
No plano temático, a sua escrita transporta-nos para o interior dos conflitos mais simples do homem, onde podemos identificar os confrontos existenciais quase sempre autobiográficos. A partir de situações de grande simplicidade, Hemingway vai construindo narrativas numa linguagem sólida que consiste em mostrar apenas uma parte do todo, na superficie do texto; por vezes, o importante, é a mensagem subtil de natureza subjectiva como nos mostra o protagonista de “As Neves do Kilimanjaro” que observa a montanha à sua frente como quem olha para o seu vazio existencial.
Em 1939, Álvaro Cunhal dizia que o sentido do neo-realismo era: "exprimir a realidade viva e humana de uma época”, “exprimir actualmente uma tendência histórica progressista".
Até Amanhã Camaradas tem uma construção narrativa marcadamente neo-realista, movimento estético e ideológico da década de quarenta e cinquenta. As influências literárias, colhe-as Manuel Tiago, em Steinbeck e Jorge Amado, numa altura em que estes dois autores assumiam uma importância fundamental, ao defenderem o compromisso da arte com a realidade social. Até Amanhã Camaradas é um testemunho vivo da luta política de um partido na clandestinidade, em busca da consolidação de um mundo melhor e de uma sociedade mais justa. Há nesta narrativa, uma procura de legitimação no espaço histórico onde ela se inscreve, narrada na luta abnegada e de resistência ao fascismo. Uma experiência vivida nas margens da sobrevivência, donde sobressai um relacionamento, mediado por afectos e afastamentos, entre os membros do PCP. Estava em jogo a implantação das células do partido em locais e em condições adversas. As personagens deste romance, configuram uma espécie de herói colectivo, num espirito de missão aliado a comportamentos estóicos e éticos, sempre em prol da organização. Não há lugar para hesitações ou traições. O trilho doutrinário está traçado, ninguém pode desviar-se um milímetro.
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