O'Neill, o mestre que topava as manhas e a cretinice de um povo em espera
"Na mediania é que está a sensaboria, já lá (não) diz o provérbio. Em Portugal nada dura mais que quinze dias, quinze dias que podem ser muitos anos, claro. Como não temos vida colectiva intensa e não vivemos problemas comuns, os casos (excepção feita ao do Eusébio), como sucede noutros países, habituamo-nos muito depressa (e aborrecemo-nos) ao que é novo, diferente, Daí o nosso cepticismo de raiz e a estranha capacidade (?) de banalizarmos tudo. É que o novo não tem em nós consequências. È apenas vidrinho, uma missanga de cor diferente. O que nós queremos é que nos façam ó-ó"
[Alexandre O'Neill, in Alexandre O'Neill Uma Biografia Literária, de Maria Antónia Oliveira, 2007]
A Pop Art foi um movimento artístico visual que surgiu no final da década 50 em Inglaterra e nos Estados Unidos, Está caracterizado pela utilização de técnicas e temas característicos da cultura de massas em objectos publicitários e revistas de caricaturas, Pelo que se pode afirmar, que é o resultado d’um estilo de vida e uma manifestação plástica da cultura da época, representada pela tecnología, a moda e o consumismo, Nesta altura, os objectos eram pensados como produtos em série, também por isso, a arte era vista como um exemplar mais de consumo
Como principais expoentes da Pop art na época do apogeu (década de sessenta) podemos nomear Roy Lichtenstein e as suas figuras do comic ampliadas até mostrar os pontos de impressão, Outro pilar do movimento foi Andy Warhol,
Warhol também realizou dois filmes, Sleep, donde, com um plano fixo, ficaram gravadas seis horas do sonho d’um homem, Também noutro plano fixo realizou, Empire que durou oito horas de gravação ao arranha céus Empire State Building
Andy Warhol, foi a figura mais conhecida e mais controvesa da Pop art, mostrou uma concepção da produção mecânica da imagem em substituição ao trabalho manual, numa série de retratos de ídolos da música popular e do cinema, como Elvis Presley e Marilyn Monroe, Warhol entendia as personalidades públicas como figuras impessoais e vazias, apesar da ascensão social e da celebridade
As gargalhadas ressoaram pela taberna quando Lúcio entrou a cambalear, mas diminuíram de intensidade à medida que a expressão dele adquiria um tom mais grave, Sem demoras, arranca num solavanco, e pontapeia uma mesa violentamente, fazendo estilhaçar copos e garrafas pelo chão, Mariazinha, filha do taberneiro, postou-se intimidada no ombro do pai, Alguns homens embriagados saíam, Um deles, retirou bruscamente uma garrafa da prateleira junto ao balcão, e sorrateiramente, pé ante pé, aproximou-se do desordeiro, e desferiu-lhe um golpe traiçoeiro na cabeça, Lúcio caiu no chão, inanimado, sem que alguém movesse uma palha, Os olhos esbugalhados sobressaiam da cabeça, movendo.se de esguelha pelo espaço infinito, Um frio imenso, inunda.lhe o corpo, a neve cobre.o em camadas finas de flocos azuis, Subitamente, nas paredes da tasca, abrem.se brechas do cimo ao fundo, e um liquido azul viscoso, mistura-se no azul celeste do céu, adquirindo a forma de querubins com grandes caudas voando em círculos, No relógio de cuco pendurado na parede, os ponteiros giram vertiginosamente em sentido contrário, como se quisessem atingir o tempo original, o ponto de partida, Sons melódicos alternam com badaladas no sino da igreja, Há cânticos gregorianos entoados por figuras esquálidas, suspensas numa corda em torno do pescoço, Um mar de lama põe em deriva dejectos putrefactos, Mariazinha sente as bochechas aumentar de tamanho, ganhando uma parecença batráquia, Os braços enformam as patas de um animal estranho, metade-mulher-metade-sapo, Pula-de-um-lado-para-o-outro, Um gesto inútil faz deslizar suavemente a mão dela sobre a mão dele, enquanto o corpo inerte de Lúcio é impulsionado ainda mais para o fundo, penetrando pela camada espessa de lodo até lhe cobrir os ombros, Afunda.se lentamente e balbuceia sons guturais, No derradeiro esforço, em demanda da lucidez perdida, surgem-lhe imagens macabras de lobos que devoram crianças no bosque e dizimam pastores e rebanhos por inteiro
Escrito por Ismael Umar
«O acto sexual é para ter filhos» - disse na Assembleia da República, no dia 3 de Abril de 1982, o então deputado do CDS João Morgado num debate sobre a legalização do aborto.
A resposta de Natália Correia, em poema - publicado depois pelo Diário de Lisboa em 5 de Abril desse ano
Já que o coito - diz Morgado - tem como fim cristalino, preciso e imaculado fazer menina ou menino; e cada vez que o varão sexual petisco manduca, temos na procriação prova de que houve truca-truca. Sendo pai só de um rebento, lógica é a conclusão de que o viril instrumento só usou - parca ração! - uma vez. E se a função faz o orgão - diz o ditado - consumada essa excepção, ficou capado o Morgado. | |
O Terceiro Passo, filme de Christopher Nolan, situa-nos no princípio do século XX, num tempo em que o ilusionismo ainda estava na moda, e inclusivamente o cinema servia.se dele para ganhar popularidade, mas também numa época em que os avanços tecnológicos, supunham mudanças drásticas no modo de vida da sociedade, Neste sentido, dois mágicos, Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale) lutavam entre si pelo melhor artista/ilusionista do momento, por encontrar o terceiro passo, como o truque perfeito para seu gozo pessoal, mas sobretudo para fazer sentir o sentimento de derrota no outro, na sua mais directa contradição
Christopher Nolan, propõe.nos um filme que contém em si mesmo um truque de magia, incluindo nele os três actos de que nos fala Michael Caine, com o qual se diverte, manejando com à-vontade os elementos básicos do suspense, pondo a nu pistas, e ao mesmo tempo tratando de despistar.nos, desconstruindo a linearidade narrativa de modo a revelar as obsessões do ser humano
O Terceiro Passo, ambienta.se numa história de magia, e na utilização perfeita do suspense, Trata.se no fundo de uma obra sobre a ambição, o talento, a rivalidade, a inveja e o êxito, mas é sobretudo um filme que nos fala da obsessão pela magia como motor da existência
As personagens de O Terceiro Passo surgem no ecrã como traidores e traídos, ninguém parece livre do pecado, Bale e Jackman principalmente, mas também Caine e Johannson, que tem um papel discreto, e cujo talento parece desaproveitado neste filme.
O nome dele é Joyce, James Joyce
Da sua vida não literária, retive uma grave doença nos olhos que quase o levou à cegueira em 1907,
Por esta altura, publicou o seu primeiro livro, Música de Câmara que contém uma série de poemas bem construidos, reflectindo a influência da poesia lírica isabelina e dos poetas ingleses dos finais do século XIX
Em (1914) publica Gente de Dublin, um livro de contos com uma elaborada estrutura das histórias, onde revela grande apuro nos pormenores irónicos, Estes contos narram episódios críticos da infância e adolescência, e da vida pública de Dublín,
Sobre Gente de Dublin escreveu Joyce, “A minha intenção era escrever um capítulo da história moral do meu país e escolhi Dublin como cenário porque a cidade se me afigura como o centro da paralisia”
No romance, Retrato de um artista quando jovem (1916), utiliza amplamente o monólogo interior, recurso literário que plasma todos os pensamentos, sentimentos e sensações da personagem Stephen Dedalus com um realismo psicológico escrupuloso, Trata.se de uma obra autobiográfica onde recria a sua juventude e vida familiar, através da história do protagonista
Mas a fama que alcançou, deveu-se sobretudo à obra Ulisses, publicada em 1922, cuja ideia principal está baseada na Odisseia de Homero, O assunto gira en torno da procura simbólica de um filho por parte de Bloom, e a consciência emergente de Dedalus em dedicar.se à escrita
Esta narrativa abarca um periodo temporal de 24 horas nas vidas de Leopold Bloom, um judeu irlandes, e Stephen Dedalus, O clímax atinge.se no encontro de ambos, É uma obra universal, que tem sido ao longo do tempo, objecto de interpretações várias
Em Ulisses, Joyce, projecta ainda mais longe a técnica do monólogo interior, como recurso fundamental para retratar as personagens, combinando a utilização do mimetismo oral e a paródia, num estilo literário singular
Finnegans Wake (1939), foi a sua última e mais complexa obra, é uma tentativa de introduzir na ficção, uma teoria cíclica da história. Este romance está escrito, na forma de uma sucessão de sonhos ininterrputos que tem lugar durante uma noite na vida da personagem Humphrey Chimpden Earwicker
Simbolizando toda a humanidade, Earwicker, a familia e amigos entrecruzam.se com os personagens oníricos, uns com os outros, e com diversas figuras históricas e míticas
Em Finnegans Wake, Joyce levou o seu experimentalismo linguístico ao limite, na mistura de linguagens, onde combinou o inglês com outros palavras provenientes de vários idiomas
P’la natureza dramática que a discussão sobre o aborto tem assumido, aqui vos deixo o dia da Ira, que julgo reportar-se ao fatidico dia 11 de Fevereiro de 2007, e condenará todos os apologistas da interrupção involuntária do coito
A tradução e os sublinhados são meus
Dies irae, dies illa,
Solvet saeclum in favilla
Teste David cum Sibylla.
Quantus tremor est futurus,
Quantus iudex est venturus,
Cuncta stricte discussurus!
Aquele dia, dia da ira,
reduzirá este mundo a cinzas,
como profetizaram David e Sibila.
Quanto terror virá
quando o juiz chegar
e discutir todas as coisas com estrito rigor!
Mors stupebit et natura,
Cum resurget creatura
Iudicanti responsura.
Liber scriptus proferetur,
In quo totum continetur,
Unde mundus iudicetur.
A morte e a natureza
ficarão estupefactas
quando ressuscitem as criaturas
para responderem ao juiz.
Sairá a luz do livro escrito
que tudo contém, e
por ele o mundo será julgado.
Iudex ergo cum censebit,
Quidquid latet apparebit:
Nil inultum remanebit.
Quid sum miser tunc dicturus,
Quem patronum rogaturus,
Cum vix iustus sit securus?
quando pareça oportuno, ao Juiz
todo o oculto dará à luz;
ninguém ficará impune.
Que poderei eu, misera criatura,
dizer então?
Que protector invocarei ?
quando apenas os justos estão
seguros?
. Medo
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